Realidade do projeto:

As populações tradicionais de pesca emergiram como novos atores sociais nas últimas três décadas. Essa maior visibilidade social e política foi consequência, em grande parte, de conflitos gerados pelo avanço da sociedade urbano-industrial sobre territórios ancestrais que até então tinham reduzido valor de mercado, sobretudo para o uso agrícola intensivo. Essa categoria de população tradicional está espalhada pelo litoral, pelos rios e pelos lagos e tem um modo de vida baseado principalmente na pesca, os pescadores, particularmente os chamados artesanais, apresentam um modo de vida peculiar, sobretudo aqueles que vivem das atividades pesqueiras marítimas.

A unidade de produção é, em geral, a familiar, incluindo na tripulação conhecidos e parentes mais longínquos. Apesar de grande parte de eles viverem em comunidades litorâneas rurais, alguns moram em bairros urbanos ou periurbano, construindo aí uma solidariedade baseada na atividade pesqueira. No que diz respeito às políticas públicas para a pesca, por vezes, possuem um viés produtivista que não consegue atender as múltiplas dimensões da vida destas comunidades. A visão setorial na pesca, até os dias de hoje, impossibilita ações de formato mais sistêmico e dialético que poderiam possibilitar avanços sustentáveis.

Segundo IBGE, o município do Rio Grande situa-se na planície costeira do Rio Grande do Sul, ocupa uma área de 3.338.356 Km², localizado junto à margem continental sul do Brasil. Rio Grande está envolvido por dois ambientes naturais: o lacustre-lagunar e o oceano costeiro, os quais interagem através do Canal do Rio Grande. A história do Rio Grande, ao longo dos seus 277 anos, constituiu-se sob um entrechoque de tensões envolvendo o doce (lagoa) e o salgado (oceano), o homem e o meio, a terra firme e o mar aberto. Além de sua posição geográfica estratégica, possui a condição de único Porto Marítimo do Estado, por onde passavam todos os imigrantes e todo o comércio internacional, aliada à riqueza pesqueira e agropecuária.

 Esta costa é considerada como detentora de um dos maiores potenciais de espécies costeiras do país. Tais fatores atraíram os colonizadores portugueses europeus e definiram as bases da economia atual: atividades portuárias e pesqueiras, refino de petróleo, indústria, comércio, turismo e serviços. Na década de 80, o município possuía 27 (vinte sete) indústrias pesqueiras, hoje há uma enorme diminuição nestas indústrias, devido à crise do setor e aos ciclos naturais (salinidade para o camarão na lagoa, etc.), bem como a extinção de diversas espécies de valor econômico significativo, pesca predatória e extrativista, a contaminação das águas com produtos químicos provenientes das indústrias e das lavouras, além das circunstâncias econômicas do país.

 Este fato gerou um agravamento das condições de vida da população, tais como: o município cresceu de forma desordenada com formação de favelas (muitas delas no entorno do estuário), o crescimento do desemprego e do subemprego, a falta de moradia digna, a subnutrição e a desnutrição afetando diretamente as comunidades artesanais de pesca. Atualmente a cidade vive, novamente, um momento de intensas transformações, após o investimento do governo brasileiro na construção de navios e plataformas no país, trouxe para a cidade, uma explosão de investimentos e consequentemente desenvolvimento na área naval. Esse momento designa principalmente, um olhar em especial para as comunidades tradicionais da pesca.

Essas comunidades têm papel fundamental na manutenção da arte de pescar artesanalmente e a sobrevivência de inúmeras famílias que persistem nessa atividade, permeando a possibilidade de extinção das mesmas. O maior problema para o pescador artesanal está relacionado com a comercialização do pescado, consequentemente, com a renda final obtida com o produto da pescaria.

Isto ocorre devido a constante necessidade de manutenção dos materiais utilizados na atividade pesqueira (petrechos de pesca, gelo, manutenção da embarcação e do motor, combustível, etc.), entre outros problemas. Nesse momento, o intermediário surge como fornecedor do capital de giro. As dívidas adquiridas mantêm a relação de dependência e exploração existente entre o intermediário e o pescador, fazendo com que este fique no compromisso de entregar sua produção.

Outro fator que desestimula a melhoria do preço pago ao pescador é a ausência de agregação de valor ao pescado, a qual poderia ser feita através da transformação do pescado bruto, por meio de filetagem, defumação, cozimento. Contudo, isto exige um investimento e a grande maioria dos pescadores artesanais não possui condições para tal. Assim, a APESMI ao longo de sua história tem pretendido através de sua organização e ações, não somente adequar o entreposto e todo e qualquer beneficiamento que agregue valor ao produto, mas buscar o desenvolvimento socioambiental da comunidade. Tal pretensão foi atingida no projeto que está sendo desenvolvido, e com elaboração do plano de negócios pode-se notar que para que a APESMI firme-se enquanto um empreendimento bem sucedido deve ampliar o mercado que disponibiliza seu pescado para venda.